Vantagem persistente de Lula em pesquisas inflama golpismo de Bolsonaro. O presidente dedica boa parte do seu tempo a preparar terreno para um não reconhecimento dos resultados das eleições, acusando a urna eletrônica de fraude, com o apoio de uma parcela do Congresso Nacional e das Forças Armadas
(Imagem: Sergio Lima | AFP) |
A pesquisa Ipespe, divulgada nesta sexta (6), mostra Lula entrincheirado em torno dos mesmos 44% desde setembro de 2021, e Bolsonaro aquartelado no patamar dos atuais 31% há um mês. Para o segundo turno, Lula oscila dentro da margem de erro de 3,2 pontos percentuais desde novembro de 2021, enquanto Bolsonaro varia na margem desde fevereiro deste ano. O petista marca 54% e o atual presidente, 34%.
Nesse meio tempo, tivemos Lula sendo acusado de falar demais ao tratar de temas como o direito ao aborto e a guerra na Ucrânia e defender uma revogação da Reforma Trabalhista e do Teto de Gastos. E presenciamos Bolsonaro atacando o Supremo Tribunal Federal e a urna eletrônica e insinuando que pode não reconhecer o resultado das eleições.
E, claro, convivemos com a inflação de dois dígitos não dando trégua aos trabalhadores e o Auxílio Brasil de R$ 400 sendo pago aos mais pobres.
Não é possível afirmar que ambos chegaram a um teto, pois isso depende de uma grande quantidade de variáveis que vão desde um elemento externo (como foi o atentado sofrido por Bolsonaro em 2018), passando pela desistência ou entrada de nomes (o atual presidente foi o que mais herdou voto com a saída de Sergio Moro) e até a pré-campanha propriamente dita, com Lula colocando seu bloco na rua.
Mas, por enquanto, eles estão mantendo suas posições, entrincheirados e aquartelados. Nas outras pré-campanhas, a aposta é que, de agora em diante, os dois vão se tornar vidraça e perderão intenções de voto, abrindo uma janela para a terceira via. Contribuiria para isso o cansaço da população com a polarização.
Por outro lado, nas candidaturas de Lula e Bolsonaro, avalia-se que, exatamente por conta da polarização, a situação já está por demais consolidada para uma mudança abrupta de cenário.
Contribuiria para isso a dificuldade dos outros partidos de se reunirem em torno de um nome único. Discute-se, inclusive, se realmente existe esse interesse ou, na verdade, alguns partidos grandes querem mais é permitir que seus candidatos a governo, a deputado e a senador subam nos palanques de quem quiserem, seja de Lula ou de Bolsonaro.
Ciro Gomes (8%), João Doria (3%), André Janones (2%) continuam com os mesmos índices do levantamento anterior. Simone Tebet (1%) oscilou um ponto para baixo e Felipe D’Ávila (1%) um ponto para cima.
É, portanto, necessário interpretar os ataques do atual presidente ao sistema de votação à luz do atual entrincheiramento de posições.
Hoje, o mais provável, é a realização de um segundo turno. Mas não é improvável que a eleição se resolva ainda no primeiro. As pesquisas têm mostrado que, caso a polarização siga nesse patamar, uma parte dos eleitores que prefere outros candidatos migre para as duas candidaturas principais na reta final do primeiro turno, com a tentativa de liquidar a fatura para um lado ou outro.
Não admira que Bolsonaro se dedique tanto a preparar terreno para um não reconhecimento dos resultados das eleições, acusando a urna eletrônica de fraude, com o apoio de uma parcela do Congresso Nacional e das Forças Armadas. O discurso do golpe é a parte mais sólida de seu programa eleitoral.
Por Leonardo Sakamoto, em seu blog
0 Comentários