À primeira vista, a paisagem é deslumbrante: uma cidade cercada por rios e lagoas, uma natureza generosa que parece prometer fartura. Mas, ao atravessar suas ruas silenciosas e observar vitrines vazias, a realidade se impõe com força, estamos diante de um município que vive à margem do próprio potencial.

Em Paulo Afonso não há fonte de renda consistente. O comércio é escasso, os empregos são poucos e a maior parte da população depende quase que exclusivamente da prefeitura, seja por meio de contratos temporários, assistencialismo ou cargos comissionados.

Qual é a veia econômica do município? Não há indústrias, não há agricultura relevante, tampouco turismo organizado. Os recursos naturais que a cercam, a água abundante, as terras férteis, permanecem inexplorados. É como se estivéssemos cercados de riquezas, mas com os olhos vendados. Há comerciantes que sobrevivem mais por insistência do que por lucro.

A prefeitura é o único motor que ainda gira, ainda que a passos lentos. Mas esse motor alimenta um ciclo vicioso: sem alternativas de renda, os moradores se voltam cada vez mais para o poder público, o mesmo que, curiosamente, parece pouco interessado em mudar essa dependência, pois quanto mais o povo depender, mais fácil é controlar.

O cenário político confirma a suspeita. Há anos os mesmos nomes circulam entre cargos públicos e lideranças locais, ora como candidatos, ora como aliados de quem vence. Iniciativas para atrair investimentos ou desenvolver projetos sustentáveis não passam do papel. Os programas de capacitação profissional são tímidos, quando existem. Não há interesse real em libertar a cidade dessa estagnação.  A pobreza virou uma forma de poder.

Enquanto isso, os jovens partem, os que conseguem, em busca de oportunidades em outras regiões. Os que ficam veem seu futuro limitado a contratos precários ou favores políticos. A cidade, embora viva, parece anestesiada. O povo, resiliente, carrega nas costas o peso de décadas de omissão, comodismo e abandono disfarçado de gestão.

Num país onde se fala tanto em autonomia e progresso, Paulo Afonso é um lembrete incômodo: a dependência institucionalizada ainda é uma forma eficaz de manter o controle. E enquanto isso não mudar, a paisagem continuará bela, mas triste.