A mãe da jovem de 27 anos que foi agredida e expulsa de um ônibus em Salvador, após tirar a máscara por estar passando mal, falou sobre a situação. O caso aconteceu na quarta-feira (5), na região da Estação Pirajá. Nesta quinta (6), a mulher agredida está hospitalizada.
Diamantina Santos, mãe de Cíntia Santos, comparou a situação com uma briga entre animais. Para ela, foi desesperador assistir ao vídeo das agressões.
“Quando eu vi aquele vídeo, que meu amigo mandou para mim, meu mundo naquele momento acabou. Foi desespero. Eu perguntei assim, a mim e a Deus: ‘Ali dentro daquele ônibus, será que só tinha bicho? Só tinha bicho ali dentro?’ Esse rapaz de blusa amarela [um dos agressores que aparece nas imagens], foi o que agrediu mais a minha filha. “, disse.
“O que fizeram com minha filha… Estava sendo ali um bocado de bicho. Entrou um bicho e os outros bichos foram para matar”.
As imagens gravadas por passageiros mostram Cíntia sentada de máscara dentro do ônibus. Ela, então, tira a proteção do rosto e diz que está passando mal. Alguns passageiros se revoltam e começam a reclamar. Cíntia não coloca a máscara de volta ao rosto e passa a ser agredida com chutes na barriga e tapas. Depois disso, ela é expulsa pela porta central do ônibus.
Indignada, a mãe da jovem questiona o comportamento desumano com que a filha foi tratada. Ela avaliou também a reação das pessoas que acompanharam a situação sem fazer nada.
“Eu queria perguntar a essas pessoas: ‘Tu tem mãe? Tu tem filhos?’ As pessoas que estavam dentro desse ônibus, tem alguma que é mãe? Tem alguma que é vó? Parece que não tinha gente dentro desse ônibus, parece que tinha um bocado de pitbull, aí entrou um cachorro vira-lata e aí os pitbulls foram para cima e fizeram aquilo. Minha filha não é cachorro. E se ela fosse um cachorro, não poderia ser tratada assim. Porque eu tenho cachorro e não trato meus cachorros assim”.
“Minha filha não é bicho, é gente”
Diamantina falou ainda que gostaria de ter a oportunidade de encontrar com um dos agressores da filha para conversar sobre a forma como ele tratou Cíntia.
“Eu queria que Deus me desse a oportunidade de ver você cara a cara, eu e você, porque eu ia dizer para você. Ia me afastar muito de você, mesmo com a máscara, para você não fazer comigo o que fez com a vira-lata”.
A mãe da jovem agredida disse que ela é uma pessoa discriminada por ser dependente química.
“Cíntia não agride ninguém. Nunca soube dela agredir ninguém, nem com palavras. Ela é muito discriminada porque é usuária de droga. Agora, a comunidade e a população toda tem que entender que não só tem minha filha usuária de droga, não. Muitas mães estão passando pelo que eu estou passando”, avaliou Diamantina.
“Minha filha é uma usuária de drogas e precisa de ajuda. É o presente de dia das mães que eu queria”.
Nesta quinta-feira, Cíntia está internada no Hospital Professor Eládio Lasserre, por causa das agressões e por ter passado mal depois da situação no ônibus. Ela é hipertensa e cardiopata e precisou do atendimento, após ser expulsa do coletivo.
“Não consegui dormir de noite. Ela deu entrada no Eládio [hospital] e está sentindo muitas dores no corpo. Mas minha filha não tem coronavírus, ela não tem. Talvez, ali dentro do ônibus que fizeram isso com ela, talvez tenha gente que esteja, ou você mesmo que agrediu ela pode estar e não sabe”, disse Diamantina.
Cíntia é mãe de duas crianças, um menino de 12 anos que mora com Diamantina e uma menina de 8 anos que mora com a família paterna. Diamantina falou sobre a reação do adolescente quando assistiu ao vídeo da agressão.
“O filho da Cíntia tem um problema e fala muito pouco. Ele viu [o vídeo] e ficou com aquilo dentro dele, não falou nada. Balançou só a cabeça. A minha filha de 6 anos, irmã de Cíntia, disse: ‘Mainha, eu não quero ver esse vídeo não porque meu coração está doendo. Por que fizeram isso com Cíntia?’”.
A secretária municipal Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) de Salvador, Rogéria Santos, disse que a família de Cíntia está sendo assistida, depois da agressão sofrida pela jovem.
“Ela se encontra hospitalizada e nós da SPMJ, da prefeitura de Salvador, já entramos em contato com a família e estamos dando toda assistência psicossocial a essa família. Vale sinalizar, nesse momento, que a violência sofrida, apesar de não ser uma violência de gênero especificamente, é uma violência cometida contra uma mulher. A gente sabe que, infelizmente, ela cometeu a desobediência ao decreto municipal, mas que não enseja de forma alguma a violência como resposta. Os agressores também cometeram violência sim, cometeram crime de lesão corporal e nada justifica”, pontuou a secretária.
Os homens que aparecem na gravação agredindo a jovem ainda não foram identificados. Ainda na quarta, a Polícia Militar informou que fez rondas na região onde o crime aconteceu, mas não localizou nenhum dos envolvidos. Não há informações se o caso é investigado. (G1/Ba)
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