Anuário Brasileiro de Segurança Pública, pela primeira vez, trouxe dados de agentes de segurança pública em eleições
Entre as eleições de 2010 e 2020, cujo pleito será realizado em novembro, pelo menos 25.452 policiais e membros das Forças Armadas elegeram-se a cargos políticos, ou seja, 1,6% do total das candidaturas.
Os dados colhidos por meio de um cruzamento de informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). foram apresentados na 14ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, lançado nesta segunda-feira (19).
Desse total, 94,5% eram de homens e apenas 5,5% mulheres. Quanto à raça, entre 2014, ano em que o TSE passou a disponibilizar percentuais deste tipo de recorte, e 2020, 54,2% são brancos, enquanto 37,9% são pardos e 7,1%, pretos.
Em relação à orientação ideológica, entre 2010 e 2018, 81,8% dos agentes se candidataram por meio de partidos de direita e centro-direita, sendo 2018 o ano de maior presença de candidaturas de conservadores, com 89,9%.
Aumento do eleitorado
Em 2018, ano em que o capitão reformado Jair Bolsonaro concorreu à Presidência da República, mais de 5 milhões de pessoas, 3,8% do eleitorado nacional, era composto por policiais e membros das Forças Armadas, ativos e inativos.
O número representa um aumento de 30,9% desse eleitorado em comparação com 2010, quando membros das Forças Armadas e policiais representavam 2,9% dos eleitores.
Tendo em mente que esses agentes de segurança pública levam consigo para o processo eleitoral apoiadores, como seus familiares, o eleitorado ligado de alguma maneira aos policiais sai de aproximadamente 5,6 milhões para 18,5 milhões.
O resultado leva em conta o número médio de membros de uma família de 3,3, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esse número, por si só, já chama muito a atenção e explica a importância das forças de segurança para o processo eleitoral no país”, aponta o estudo. Essa relevância aumenta ao observar as “pessoas que já votam ou ajudam a irradiar percepções e representações sociais disseminadas nestas categorias”.
Uma pessoa assassinada a cada 10 minutos
O anuário também trouxe o número de mortes violentas intencionais no primeiro semestre deste ano, que cresceu 7,1%. No total, foram 25.712 mortes, o que significa uma pessoa assassinada a cada dez minutos, mesmo sob as regras de isolamento social. Entre os fatores que elevaram tal dado está o aumento de mortes por intervenções policiais.
No primeiro semestre de 2020, houve um aumento de 6% de mortes em decorrência de intervenção policial, em relação ao mesmo período em 2019. Em termos absolutos, o percentual representa 3.181 pessoas. Rio de Janeiro (775), São Paulo (514) e Bahia (512) são os estados que, juntos, somam 56,6% de todas as mortes praticadas pelas polícias.
Somente em abril deste ano, o primeiro mês que começou e terminou sob a pandemia de covid-19 e, portanto, com as medidas de distanciamento social em vigor, São Paulo registrou 102 mortes por policiais durante o horário de serviço.
Feminicídio
Outro fator é o aumento de de casos de feminicídio de 1,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao de 2019, atingindo 648 mulheres mortas. Paralelamente, os registros de violência doméstica, o que evidencia que não houve quebra do histórico de violência do feminicídio.
De acordo com o relatório, “essa incongruência entre aumento de mortes, queda de registros em delegacias e crescimento dos acionamentos à PM pode ser reflexo da dificuldade de as mulheres comparecerem às delegacias para o registro das ocorrências em meio às medidas rígidas de isolamento social necessárias à contenção da pandemia”.
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