Os emblemáticos tuítes do general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), realizado às vésperas do julgamento de Lula e interpretado como ameaça de golpe e pressão para que o STF não favorecesse o ex-presidente, em 2018, ganham novos contornos. 

 

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, escreveu o general, à época. “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”, acrescentou.

 

 

Segundo o Estadão, o militar revelou detalhes daquele movimento no livro “General Villas Bôas: Conversa com o Comandante”,  lançado pela Editora FGV a partir de entrevista concedida ao pesquisador Celso Castro. 

 

Na publicação, Villas Boas diz que as mensagens não foram uma ameaça, mas um “alerta” e revela que a iniciativa foi planejada junto com o Alto Comando. “O País, desde algum tempo, vive uma maturidade institucional não suscetível a possíveis rupturas da normalidade. Ademais, eu estaria sendo incoerente em relação ao pilar da ‘legalidade’ (citado no tuíte). Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça”, diz ele, no livro.

 

O militar afirma que existiram duas motivações para a emissão das mensagens, uma que ele chamou de “insatisfação da população” e outra a o pedido que chegava ao Exército por uma intervenção militar, à qual ele disse considerar “impensável”.

 

Villas Bôas diz, no livro, que o recado elaborado com o Alto Comando passou ainda por revisão dos comandantes militares de área, mas revela que ele não passou pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, ao qual o próprio comandante era formalmente subordinado.

 

Apesar do texto ter sido considerado uma pressão em cima do STF, o general alega que não pretendia mudar o voto dos ministros, mas que admite que poderia haver um “sentimento generalizado de insatisfação" dentro do Exército caso o resultado do julgamento fosse favorável a Lula. 

 

O ex-comandante contou ainda que àquela altura desenvolveu uma nova estratégia de comunicação no Exército. “Estabeleci como meta que o Exército voltasse a ser ouvido com naturalidade. Teríamos de romper um patrulhamento que agia toda vez que um militar se pronunciava, rotulando de imediato como quebra da disciplina ou ameaça de golpe”, diz ele, justificando a iniciativa, como uma forma de normalizar posições políticas. 

 

Esta medida, segundo Villas Bôas, foi implementada pelo general Rêgo Barros, que era chefe do Centro de Comunicação Social do Exército (CComSEx) e depois foi nomeado como porta-voz do governo de Jair Bolsonaro. Ele deixou o cargo em outubro de 2020 e tornou-se crítico do governo.