Infectologista diz que nova variante, cobertura vacinal inadequada e abandono das medidas preventivas impactam na elevação dos casos
nfectologista Renee Oliveira destaca que adotar medidas preventivas é uma atitude pelo bem comum - Foto: Carla Cleto / Ascom Sesau |
Depois de uma breve temporada de aparente calmaria, os números da Covid-19 voltaram a subir em Alagoas. A cada boletim diário divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), é constatado um avanço. Há um mês, quase não eram registradas mortes e os novos casos estavam na casa das dezenas. Na última segunda-feira (12), foram mais 500 novos casos. Terça-feira (13), 416 novos casos e seis pessoas mortas.
O infectologista Renee Oliveira, chefe do Gabinete de Combate à Covid-19 da Sesau, afirma que estamos vivendo a terceira onda de 2022. “Seria uma nova onda sim, porque temos subvariantes diferentes, em maio e junho era a BA.4 e a BA.5 e agora temos a BQ.1 e BQ1.1. Pelo número de casos podemos considerar sim”.
A principal explicação é a nova variante, mas Renee reforça que é um conjunto de fatores. “Juntou que a cobertura vacinal não está adequada e a população deixou os cuidados não farmacológicos de lado. Ninguém usa mais máscara ou distanciamento”. Ele acredita que, por conta do sucesso da vacina e as pessoas serem acometidas por quadros leves, muitos acabam relaxando e relutando a adotar as medidas.
Com 230 leitos exclusivos para Covid, cerca de 40% estavam ocupados até a última terça-feira. Entre esses leitos, 59 são de UTI, que apresenta uma ocupação de 37%.
As medidas começaram a voltar. No dia 16 de novembro, a Sesau recomendou o uso de máscaras em ambientes fechados. Algumas repartições recomendaram ou tornaram obrigatório novamente as máscaras, como a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a Justiça.
Em hospitais, o Governo do Estado já começa a ampliar leitos para paciente com Covid (foram 62 novos desde o início deste mês) e restringir visitas a pacientes. Na rede pública isso já está em vigência, e em muitos privados também já está adotada a medida. Renee explica a razão da proibição, que é uma medida de proteção aos pacientes. “Lá fora as pessoas estão andando sem proteção, sem ligar para nada e, nos hospitais, os pacientes que sofreram enfarto, os oncológicos, estavam entrando e pegando Covid lá dentro por conta da movimentação de pessoas, das visitas”.
O Conselho Regional de Farmácia de Alagoas afirmou que a procura por testes rápidos para Covid aumentou muito no último mês e que mais de 40% dos testes estão com resultado positivo. De acordo com o conselheiro Alexandre Correia, que também é presidente do Sindicato dos Farmacêuticos, a demanda por testes em Rio Largo, por exemplo, foi de zero em setembro, subiu para 79 em outubro e disparou em novembro, com 229 testes realizados.
“A realização de teste aumentou muito. No serviço público temos o exemplo no Hospital Professor Ib Gatto Falcão com um aumento de mais de 200% em novembro em relação a setembro. Só em dezembro, até o momento, já foram 173 testes. Nas farmácias comunitárias privadas [drogarias] está acontecendo um número muito grande de autoteste”, contabilizou.
Paralelo a isso, os remédios voltados para sintomas da Covid também tiveram a demanda aumentada. “Há uma alta procura de analgésico, especialmente a dipirona de 1g e o xarope para tosse não produtiva (seca), que são sintomas da Covid na variante atual”, disse Alexandre.
Menos de 1% dos casos de quadro vacinal completo e de jovens se agrava
De acordo com o chefe do Gabinete de Combate à Covid-19 da Sesau, é muito remota a possibilidade de agravamento em pessoas com o esquema vacinal completo e sem fatores de risco (idosos acima de 75 anos ou pessoas com comorbidades).
“Menos de 1% de quem tem o quadro vacinal completo e é jovem agrava. Hoje temos medicamento para quadros leves e moderados. Eles são voltados para velhinhos que têm 75 anos ou mais. Porque quem tem 80 anos tem risco 10 vezes maior do que quem tem 20 anos. Quem tem 20 anos e tomou suas 3 doses tem chance remotíssima de precisar de internação. Acima de 40 já precisa das quatro doses. À medida que vai envelhecendo a chance aumenta e, com as comorbidades, aumenta muito”.
Ele reforça que adotar as medidas preventivas é uma atitude pelo bem comunitário, porque pessoas de mais risco podem agravar mesmo com a vacina e quem está com quadro leve ou até mesmo assintomático acaba levando a carga viral. “As subvariantes conseguem escapar do sistema imunológico e, na maioria das vezes, provocam quadro leves. As pessoas que são mais suscetíveis, como imunossuprimidos e idosos, sofrem mais. Pegando Covid, estão na mira de evoluir com gravidade, indo à UTI e morrendo”.
De forma mais ampla, ele fala sobre o risco que são oferecidos por quem não toma a vacina. “Se não atinge meta de vacina, ficam muitos buracos. Quem não se vacinou, quando pega, tem uma carga viral muito alta e transmite com mais intensidade. E esse vírus passa de uma pessoa para a outra com muita facilidade”.
Completar o esquema vacinal é uma decisão que protege a si mesmo e aos outros. “Vacina não impede de pegar, ela ajuda no caso de caminhar para quadros graves e morte. Por isso precisa vacinar.”
Com a população sendo informada do que deve fazer para conter os avanços da doença, o especialista responde sobre o risco de essa nova onda atrapalhar as festas de final de ano. Ele espera que não aconteça. “Pessoas vão a confraternizações sem máscara com quadro gripal, não ligam e aglomeram, contaminam todo mundo. Acho que todo mundo vai pegar. Sabemos que 30% das pessoas que pegam Covid são assintomáticas”.
Segundo ele, a quantidade expressiva de pacientes que apareceram na semana passada e retrasada provavelmente foi Covid. Ele finaliza com uma expectativa positiva. “Esperamos que não seja preciso tomar mais medidas”.
Por Emanuelle Vanderlei com Tribuna Independente
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