Marcelo Lima (Podemos) é apontado pela Polícia Federal como o chefe de um "complexo esquema de corrupção" que, junto com empresários, desviava dinheiro da prefeitura de São Bernardo do Campo. Operador financeiro é Paulo Iran, assessor de deputado do PL ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Cronologia revela que esquema foi descoberto por acaso, a partir de uma outra operação que nada tinha a ver com o caso
O que era para ser apenas mais uma diligência da Polícia Federal se transformou na porta de entrada para um dos maiores escândalos de corrupção recente na Grande São Paulo. Ao cumprir um mandado contra um investigado por golpes na internet sem relação direta com a prefeitura de São Bernardo do Campo (SP), os agentes se depararam com um endereço que escondia um verdadeiro “bunker” de dinheiro vivo, e acabaram desmantelando um complexo esquema de propina e desvio de recursos públicos que, segundo as investigações, tinha como líder o prefeito afastado Marcelo Lima (Podemos).
A trama começou com a busca por João Paulo Prestes Silveira, alvo de outra operação da PF. Durante as diligências, os policiais chegaram ao condomínio de alto padrão na Avenida Dom Jaime de Barros Câmara, onde ouviram de funcionários e de um marceneiro que um homem chamado “Paulo” vivia ali. Esse “Paulo” era Paulo Iran Costa, até então assessor do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL), ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
No dia 7 de julho, agentes abordaram Paulo Iran no estacionamento, dentro de um Jeep Compass. No veículo, encontraram entre R$ 60 mil e R$ 90 mil em espécie e uma sacola marcada com o número “400”. Ele inicialmente indicou um apartamento que não constava nas investigações, mas acabou admitindo ser dono de outro imóvel no mesmo condomínio. Com sua autorização, a PF entrou no local e se deparou com R$ 12,27 milhões e US$ 156,9 mil em dinheiro vivo, além de documentos e celulares. A descoberta, classificada pelos investigadores como um “encontro fortuito de provas” ou “serendipidade”, desencadeou uma investigação mais ampla.
COMO FUNCIONAVA O ESQUEMA
Segundo a PF, o esquema funcionava por meio de contratos milionários da prefeitura e da Fundação ABC, entidade sem fins lucrativos responsável por gerenciar unidades de saúde no município. Empresas de áreas como saúde, informática, transporte e limpeza urbana repassavam valores ilegais para garantir ou manter seus contratos.
Os pagamentos chegavam a Paulo Iran de forma direta ou intermediados por servidores estratégicos, como Antônio Rene da Silva Chagas (diretor de departamento na Secretaria de Coordenação Governamental), Fábio Prado (secretário de coordenação governamental), e Roque Araújo Neto (servidor da Câmara Municipal). O vereador e presidente da Câmara, Danilo Lima de Ramos, o ex-vereador Ary Oliveira e o ex-secretário de Administração, Paulo Guidetti, também foram citados.
O dinheiro vivo encontrado foi descrito por investigadores como típico de grandes operações de lavagem, em que valores circulam fora do sistema bancário para dificultar o rastreamento. Para a PF, o montante reforça a suspeita de que o grupo operava uma rede de pagamentos ilegais sistemática e de alto volume.
Marcelo Lima foi afastado do cargo por decisão judicial. Em nota, a prefeitura afirmou colaborar com as investigações e disse que “o episódio não afeta os serviços da cidade”. Ary Oliveira declarou nas redes sociais que “desconhece” os motivos de sua citação e prometeu se pronunciar após ter mais detalhes.
Paulo Iran está foragido e foi exonerado da Assembleia Legislativa de São Paulo. O deputado Rodrigo Moraes disse que a demissão foi imediata assim que soube das acusações. Outro preso na operação foi Edmilson Carvalho, sócio de uma empresa de terraplanagem suspeita de participar dos repasses.
O caso agora segue em investigação, e a PF tenta rastrear a origem e o destino final dos milhões apreendidos. Os valores, segundo os investigadores, podem representar apenas uma fração do que foi movimentado pelo grupo.
Por Pragmatismo Político
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