A pastora e ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), informou no Twitter que vai processar o jornalista Flávio VM Costa, porque este escreveu naquela rede social que ela “tramou” sequestrar a menina capixaba grávida de 10 anos para impedir o aborto.

“Terá que provar isso na Justiça. Nos vemos nos tribunais”, respondeu a ministra.

O suposto sequestro se refere à atuação de Damares nos bastidores para transferir a menina de São Mateus (ES) para o hospital São Francisco de Assis, em Jacareí (SP), onde ela seria convencida a manter a gravidez.

Damares nega que tenha interferido no caso, mas reportagem da Folha e do Globo comprova que seus assessores estiveram na cidade e a própria ministra participou de uma videoconferência com autoridades de São Mateus.

 
Damares estava pressionando autoridades médicas e a avó da menina para que a gravidez fosse mantida.

Damares admite que estava monitorando o caso para garantir o bem-estar da menina, mas a Folha apurou que assessores da ministra mantiveram contato com duas médicas do hospital de Jacareí para tratar da transferência.

Embora o caso fosse de competência da Secretaria de Saúde de São Mateus, que estava agindo de acordo com a legislação, que permite aborto em caso de estupro, a Folha obteve cópia de um ofício datado em 13 de agosto, em papel timbrado do Hospital São Francisco de Assis, que trata da internação da menina em Jacarei.

 

Na época, a garota e a sua vó já estavam decididas a interromper a gravidez e estavam tendo de resistir à oposição de integrantes do Conselho Tutelar.  

O Ministério Público encaminhou ao TCU (Tribunal de Contas da União) uma representação para apurar se Damares Alves desrespeitou o Estado laico, tentando conduzir o desfecho do caso da criança vítima estupro de acordo com as convições religiosas dela, pastora.

 

O MP ressalta, na representação, que houve a mobilização de um “aparato estatal para meramente dissipar angústias pessoais da ministra Damares Alves, que tem, relativamente à questão do aborto, uma postura contrária ao ordenamento jurídico brasileiro”. 

 

Há também a suspeita de que o nome da menina e o do hospital em Recife onde seria realizado o aborto foram vazados pelo ministério da Damares para a ativista de extrema-direita Sara Winter, que divulgou a informação em sua rede social, o que motivou uma manifestação de fanáticos religiosos na entrada do local. A menina teve de entrar no hospital escondida dentro de um carro.

 

No Twitter, o jornalista Costa afirma que "sequestrar crianças é uma expertise" da Damares.

Em janeiro de 2019, a revista Época publicou denúncia de índios da tribo Kamayurá, da reserva Xingu, de que Kajutiti Lulu Kamayurá, filha adotiva da Damares, 
tinha sido sequestrada aos 8 anos por uma assessora da pastora. Damares nega.