Um dos quatro ex-seminaristas que acusam dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém (PA), disse à Polícia Civil que o líder católico, em uma ocasião, massageou as genitálias dele "dizendo estar orando ao Espírito Santo para que ele, o jovem, permanecesse casto e pudesse evitar qualquer iniciativa de masturbação".


O trecho vazado do depoimento do ex-seminarista — designado por "Z" para preservar sua identidade — prossegue:

“Como não consegui ter ereção, ele [o cardeal] reagiu com furor, desferindo uma bofetada em meu rosto e disse: ‘Você é um incompetente’ (...) Passado esse momento, ele respirou e como se nada tivesse acontecido, rezou por mim. Estando nós dois completamente despidos, disse: 'Em nome de Jesus Cristo, eu te curo de todo e qualquer desejo homossexual’".

As acusações dos outros três ex-seminaristas são parecidas. O líder religioso os abordava a pretexto de detectar neles tendências homossexuais. Autoridades acreditam que possam aparecer outras denúncias.

Os abusos teriam ocorrido entre 2010 e 2014, quando os jovens estavam na faixa de 15 a 18 anos. O cardeal, portanto, de acordo com as acusações, abusou de menores de idade.

Em dezembro de 2020, dias antes da versão em português do site do El País divulgar as denúncias, o arcebispo se antecipou gravando um vídeo dizendo estar triste porque fora informado de "procedimentos investigativos com graves acusações contra mim, sem que eu tenha previamente questionado ou tido qualquer oportunidade para esclarecer os fatos das acusações”.

Posteriormente, ele negou de novo as acusações, dizendo que os jovens são recalcados e agem por vingança. Não explicou qual seria o motivo da retalhação.

Com a divulgação da abertura de inquérito policial pelo Fantástico, no dia 3, as acusações contra dom Correa se tornaram no mais recente escândalo da Igreja Católica do Brasil. O cargo de arcebispo está no topo da hierarquia da Igreja. O Vaticano acompanha o caso.

O Ministério Público aguarda a conclusão das investigações policiais para denunciar (acusação formal) ou não o arcebispo à Justiça. É possível que, antes disso, dom Corrêa seja afastado do cargo, para poupar a imagem da Igreja Católica, que já parece ser um paraíso na Terra de pedófilos, de tantos que são os casos do crime já confirmados.

O ex-seminarista "S" contou que conheceu o arcebispo em 2010, e os assédios sexuais e morais se tornaram frequentes.

"Quando falei que eu queria sair do seminário por disso, isso e isso, comecei a chorar. Ele [dom Corrêa] mudou repentinamente de humor. Bateu na mesa e me xingou de 'viado' , disse que chorar era coisa de ' viado' , que eu tinha que ser homem, que eu tinha que ser forte. E isso tudo gritando, assim, de maneira que até chegou a me assustar", de acordo com que o jovem contou ao Fantástico.

37 entidades da sociedade civil, como a Associação Brasileira dos Juristas pela Democracia, assinaram nota pública pedindo o "imediato afastamento" do arcebispo.

Defendem "o direito à ampla defesa e ao contraditório do sr. arcebispo, mas também sejam garantidos os direitos das vítimas ao devido processo legal e acesso à justiça, sem interferências indevidas".