Estima-se que cinco pessoas sejam desligadas do serviço no setor a cada hora





A pandemia e as consequentes restrições para tentar conter a Covid-19 atingiram em cheio os restaurantes e lanchonetes existentes em Alagoas. De acordo com o levantamento da Junta Comercial do Estado (Juceal), nada menos que 732 estabelecimentos fecharam as portas devido à crise sanitária e econômica dentro do território alagoano.

Dados apontam que, dos 1.433 bares e similares existentes antes da pandemia, 322 deles fecharam as portas entre março de 2020 a abril de 2021. O estado tinha 1.489 lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares, que também sofreram uma baixa. Foram 410 estabelecimentos do tipo fechados nesse período.

Em Maceió, eram 919 restaurantes e similares antes da pandemia e 183 deles foram fechados. O número de lanchonetes na capital também sofreu queda. Dos 912 existentes antes da pandemia 255 não existem mais.

Com esse quantitativo negativo não houve outra opção que demitir funcionários. Conforme a Abrasel/AL (Associação de Brasileira de Bares e Restaurantes de Alagoas), mais de 3.500 trabalhadores perderam seu emprego e estima-se que cerca de cinco pessoas sejam desligadas do serviço no setor por hora.

Durante a pandemia da Covid-19, os estabelecimentos de alimentação fora do lar viram-se impedidos de trabalhar por conta das medidas restritivas para conter o avanço da contaminação. “Conseguimos segurar por muito tempo, mas agora não deu mais para aguentar”, disse Thiago Falcão, presidente da Abrasel Alagoas, que representa 370 empreendimentos do segmento.

Ana Claudia Fontan, proprietária de um restaurante em shopping na mangabeiras, em Maceió, disse que para driblar a crise, teve que demitir oito funcionários. “Ficamos com apenas seis deles, mas essa semana, já chamei três de volta”, frisou. “Fora isso intensificamos o delivery através do iFood, na pandemia do ano passado, usei todas as minhas reservas e nessa agora tive que fazer empréstimo”, revelou.

Mais de um terço dos restaurantes e bares do Brasil fecharam as portas desde a chegada da Covid, segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). A maior parte do setor, 98%, é composta por micro, pequenas e médias empresas, de acordo com a entidade.

A Abrasel indica que mais de 300 mil restaurantes fecharam as portas no Brasil em 2020. Para se ter uma dimensão da crise financeira do setor, uma pesquisa realizada pela associação mostra o tamanho do caos.


Mais de 300 mil restaurantes fecharam as portas no Brasil durante o ano de 2020; 98% deles eram micro, pequenas e médias empresas (Foto: Edilson Omena)

Receitas novas em pratos com muito mais sabor

Ela afirmou que a estratégia é sempre tentar melhorar com receitas novas, apresentação dos pratos proporcionando muito sabor. O que para Cláudia, já é bem difícil por conta da equipe reduzida e movimento fraco. “Mas com a esperança de que tudo vai voltar ao normal em breve”, destacou.

Gessilane Cavalcante, dono de um restaurante na parte alta de Maceió, também precisou usar a reserva financeira para se manter no ramo, além de reduzir o quadro de funcionários e contou que devido a crise se reinventou e colocou a mente para funcionar.

“Variamos o cardápio e apresentamos preços mais acessíveis para o cliente, reduzimos o valor da quentinha para não ter que fechar, essas foram algumas estratégias que utilizamos, sempre prezando por qualidade apesar do aumento dos preços dos alimentos”, salientou.

“Essa foi uma forma de se manter no mercado até a crise passar, esse é o segredo, qualidade e preço, e também estamos pensando em delivery como forma de incremento na renda, mas acima de tudo Deus, não desistir e não desanimar, Deus proveu, houve momentos difíceis mas foi uma benção”, contou.

Governador lança pacote emergencial de R$ 100 milhões ao setor

Renan Filho lançou um pacote de auxílio econômico de R$100 milhões para o setor produtivo alagoano no início de março, em especial o de bares, restaurantes, lanchonetes, food trucks e similares, um dos mais afetados pelos efeitos da pandemia da Covid-19.

Entre as medidas tributárias anunciadas estão: Extinção do pagamento da Substituição Tributária para a aquisição de alimentos (medida aplicada em definitivo); Isenção do ICMS do Simples Nacional para o período de março a junho de 2021; Isenção do ICMS da energia elétrica para o período de março a junho de 2021; Isenção do IPVA de veículos de empresas do segmento de bares e restaurantes para o exercício de 2021; Suspensão da cobrança de ICMS antecipado para o período de março a junho de 2021; Suspensão do pagamento dos parcelamentos do ICMS para o período de março a junho de 2021; Dois novos programas de Recuperação Fiscal (Profis): um para todos os contribuintes e um programa especial para os contribuintes do Simples Nacional; Abertura de linha de financiamento de até R$ 4 mil com 0% de juros e carência de seis meses para MEIs; e a Abertura de linha de financiamento entre R$ 20 mil até R$ 50 mil com 0% de juros e carência de seis meses para empresas do Simples Nacional, a depender da faixa de faturamento.

Renegociar dívidas e pedir empréstimos é muitas vezes a saída

Deda Dias, proprietário de um restaurante vegano, assim como as empresárias ouvidas na reportagem, também precisou demitir, renegociar dívidas e empréstimos para não fechar as portas do seu estabelecimento.

“Não está sendo fácil, a maioria das empresas são pequenas e não têm reserva para se manter, nós sobrevivemos do fluxo de caixa, ano passado renegociamos, pegamos empréstimo e mesmo assim foi ruim, tivemos que colocar quase a metade dos funcionários da equipe para fora e nós é que tivemos que vir para linha de frente e trabalhar”, disse.

“Com a segunda onda tivemos que buscar outro empréstimo e se reinventar trazendo linhas de pratos mais em conta, divulgamos ainda mais o delivery e criamos também pratos congelados, além de intensificar novas vertentes com a feirinha de orgânicos, por exemplo, por encomenda vendendo por meio da nossa lojinha online. Tudo isso para poder minimizar o impacto porque de toda forma não é a mesma coisa de quando o restaurante estava aberto, já que o salão é que traz o resultado para a gente”, explicou.

Ainda de acordo com Deda Dias, mesmo com todas as estratégias, o trabalho é fechado no vermelho mensalmente, sobrevivendo e esperando que passe a pandemia para assim poder trabalhar no verde. “Estamos atravessando essa crise, com fé em Deus e com as medidas de redução e suspensão do contrato de trabalho nos auxilia bastante, mas continuamos tendo que pagar impostos, água, luz, funcionários, enfim tudo, e os insumos subiram muito também é um desafio e estamos batalhando e seguindo em frente, não vamos desistir”, pontuou.

Thiago Falcão, presidente da Abrasel Alagoas, salientou que mais um passo foi dado no que diz respeito à flexibilização de bares e restaurantes permitindo a abertura desses estabelecimentos nos finais de semana, mesmo ainda com a fase vermelha mantida no estado.

“Podemos trabalhar sábado e domingo, uma medida importante de flexibilização ao nosso setor, a gente pede ao governo que continue avançando e na semana que vem possa adequar o horário noturno, já que temos diversos estabelecimentos que ainda não estão funcionando devido ao lockdown, que impossibilita funcionar a partir das 21h”, explicou.

“Então que possamos voltar nossas atividades de forma plena seguindo todos os protocolos e cuidados que a Abrasel já vem divulgando desde o início da pandemia, pedimos esse entendimento do governador Renan Filho no sentido de avançarmos no processo de flexibilização”, emendou o presidente da Abrasel Alagoas.