Na alegoria dramática de Gil Vicente - intitulada Auto da Barca do Inferno - os personagens discutem com o Diabo e com o Anjo em qual das barcas devem entrar, se na do Inferno ou na da Glória. Traçando uma analogia com o cenário político pauloafonsino, encontramos perfeita simetria com pelo menos uma das barcas: a do inferno. Assim como a barca de Gil Vicente, a barca política do inferno, que singrará pelo enlamaçado mar da cobiça, mentira e engodo até sete de outubro, deverá lotar.

O deputado Paulo Rangel, aconselhado pelo seu fiel escudeiro Carlinhos de Tico, continua a arrebatar almas petistas para a barca do inferno resguardando-lhes o direito de caso Anilton se reeleja, negociar no purgatório um cargozinho aqui e outro acolá.

Os arautos da moralidade que sempre se autodenominaram paladinos da causa
trabalhadora na verdade eram fidalgos e onzeneiros travestidos de socialistas cujas almas já estavam conspurcadas e com vagas garantidas no batel infernal.

Os oitenta filiados petista que votaram a favor da aliança com o prefeito Anilton reforçaram a tese da corrupção moral que se aninhou no partido desde que este se deixou capitanear pelo falso moralismo político do deputado estadual.

Assim como no auto de Gil Vicente, a barca do inferno da política pauloafonsina também tem uma Brísida Vaz e um procurador; acrescento, ainda, um médico, um sindicalista, um guarda (da Chesf) e toda sorte de almas cujas condenações passarão, invariavelmente, pelas barganhas às quais de sujeitaram.