Um sargento da 11ª Companhia PM, em Montes Claros (MG), disse em ordem unida a uma tropa de jovens soldados que a autoridade da instituição vem de "Deus, do Senhor".


O sargento pregou: "Não se esqueçam que foi o Deus todo poderoso, o Senhor, que abriu a porta para que o senhores estivessem aqui".


Fez os soldados repetirem: "Deus é bom, Deus é bom".

Um vídeo [ver abaixo] mostra o proselitismo religioso do sargento, cujo nome não foi revelado.

A CAJP (Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz), da Arquidiocese de Belo Horizonte, defendeu o Estado laico, repudiando o que considera ser um ato do "fundamentalismo e fanatismo religioso" a serviço de lavagem cerebral dentro de uma instituição oficial.


A comissão católica pediu uma explicação ao governador Romeu Zema, porque. ressaltou, a Academia de Polícia Militar de Minas Gerais tem de se submeter à Constituição.

"É constrangedor [ver] um sargento dando exercícios a comandados com permanente referência a um 'deus' [sic]", diz a nota [íntegra abaixo].

O comandante-geral do 11º regimento de Polícia Militar (RPM), coronel Wanderlúcio Ferraz dos Santos, determinou uma "apuração dos fatos".

Em afronta à laicidade de Estado, igrejas evangélicas estão se infiltrando em quartéis da PM há algum tempo, intensificando-se com a ofensiva da Igreja Universal.


Íntegra da nota

"A Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte, tomou conhecimento de uma possível prática contrária à proteção dos Direitos Humanos, à liberdade de consciência religiosa e filosófica, aos princípios constitucionais republicanos de laicidade do Estado entre outros direitos individuais, culturais e democráticos expressos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

A Academia de Polícia Militar de Minas Gerais é um espaço importante de formação de profissionais em segurança pública e tem como objetivo principal, submetido à Constituição, a proteção de todas as pessoas, independentemente de qualquer diferença que possa existir na diversa sociedade brasileira, observando, portanto, sempre, os princípios constitucionais republicanos do Estado laico brasileiro na formação desses profissionais.

Um vídeo, amplamente divulgado em redes sociais, apresenta um constrangedor exercício com soldados, comandados por um sargento da Corporação policial militar, onde os exercícios são comandados com permanente referência a um “deus” responsável pelo fato de estarem todos trabalhando na Polícia Militar, ao qual todos devem obediência.

Aos gritos, o sargento afirma que a autoridade da Polícia Militar vem desse “deus” e “senhor”. Este fato contém um enorme perigo e grave violação da Constituição da República. Expliquemos.

O vídeo mostra a conhecida técnica de lavagem cerebral, bastante eficaz e perigosa para a democracia e para a necessária observância por parte das forças policiais militares, da lei, da Constituição e da rede hierárquica de comando da instituição policial-militar.

A técnica consiste na referência repetida, em situação de pressão psicológica, a uma autoridade superior, vazia de conteúdo. Não há referência a valores morais e éticos, mas apenas uma repetida e insistente referencia a um “deus” com autoridade inquestionável e que é bom.

Esse exercício repetido de maneira exaustiva cria uma espécie de “caixa vazia” na cabeça das pessoas vitimadas por esse processo. Propositalmente ausente de valores éticos e morais, esse “deus” do qual emana a autoridade da Polícia ou qualquer força armada, pode a qualquer momento preencher esse vazio, essa “caixa vazia” mental, com ordens que não serão questionadas.

O problema central é que, nessa ausência e impossibilidade de questionamento, aquele que se identificar como a vontade desse “deus”, aquele que tenha uma falsa “legitimidade” para falar em nome desse “deus”, pode, quando menos se esperar, efetivar comandos, que claramente serão superiores aos comandos da hierarquia policial militar que por sua vez está subordinada às leis e à Constituição, e ao Comando civil da autoridade republicana, no caso o governador, eleito pelo povo e também subordinado à lei e a Constituição e à vontade popular, vontade esta que produz as leis e a Constituição em uma democracia constitucional.

A existência dessa “caixa vazia” mental expressa por um “deus” que está no comando da Polícia, é, portanto, de enorme gravidade.

As consequências do fundamentalismo e fanatismo religioso, misturados com o poder do Estado e suas instituições armadas, nunca gerou nada diferente do que violência, totalitarismo e destruição.

A Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz vem, portanto, por meio desta, pedir esclarecimentos ao Governador do Estado de Minas Gerais, ao Comando da Polícia Militar de Minas Gerais, e mostra sua grande preocupação com fato divulgado, chamando atenção de toda a sociedade mineira e dos órgãos constitucionais municipais, estaduais e federais responsáveis pela proteção da democracia, sobre o ocorrido, esperando que seja um caso isolado, que, entretanto, caracteriza desvio de função e logo improbidade administrativa.

A correta apuração e esclarecimento de grave fato deve impedir que isso se repita na administração civil e militar nos três níveis de nossa federação.

É fundamental que ocorra uma investigação sobre a possível existência dessas práticas em outros lugares e momentos, não só no processo de formação dos servidores públicos civis e militares, como na prática diária de suas funções públicas, republicanas, imparciais, laicas e pautadas pelos valores constitucionais da diversidade, democracia, pluralidade e respeito à integridade física e mental de todas as pessoas.

Professor Doutor José Luiz Quadros de Magalhães
Presidente da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz

Professor Doutor Marciano Seabra de Godoy
Presidente da Academia de Juristas Católicos Humanistas

Professor Doutor Robson Sávio
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos"

> Com informação da Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz, da Arquidiocese de Belo Horizente, e de outras fontes e vídeo da rede social.